Intérpretes de mascarados na Fábrica Flaskô. Sumaré, agosto de 2017. Foto: João Maria. Arquivo Grupo de Pesquisa BPI.
Personagem “Ina”, Intérprete: Larissa Turtelli. Foto: João Maria. Arquivo Grupo de Pesquisa BPI.
Personagem “Conceição”, Intérprete: Elisa Costa. Foto: João Maria. Arquivo Grupo de Pesquisa BPI.
Personagem “Rosinha/Margarida”, Intérprete: Nara Cálipo. Foto: João Maria. Arquivo Grupo de Pesquisa BPI.
Personagem “Coraci”, Intérprete: Mariana Jorge. Foto: Joel H. Silva. Arquivo Grupo de Pesquisa BPI.
Personagem “Zafira”, Intérprete: Natália Alleoni. Foto: João Maria. Arquivo Grupo de Pesquisa BPI.
Personagem “Moça da Mata”, Intérprete: Mariana Floriano. Foto: Joel H. Silva. Arquivo Grupo de Pesquisa BPI.
Personagem “Joaquim”, Intérprete: Flávio Campos. Foto: Joel H. Silva. Arquivo Grupo de Pesquisa BPI.
Para a realização deste espetáculo, desde o dia 02 de janeiro de 2017, o Núcleo BPI (Bailarino-Pesquisador-Intérprete) ocupou um barracão gentilmente cedido pela Fábrica Flaskô, atualmente a única fábrica no Brasil ocupada pelos trabalhadores. Isso possibilitou uma imersão de uma maneira muito especial das pessoas envolvidas neste projeto, que puderam inclusive vivenciar as forças de resistência coabitadas com os trabalhadores da fábrica em momentos de dificuldades.
O ponto de partida para a criação artística foram as pesquisas desenvolvidas pelo grupo ao longo dos últimos anos. Intrínsecas a estas, foram realizadas pesquisas de campo, dentre outros segmentos, com a comunidade dos Arturos (MG), os folguedos do Boi (MG, MA, MT), os ciganos (SP), as baianas de escolas de samba (SP), as quebradeiras de coco babaçu (TO), as parteiras Pankararu (PE) e as benzedeiras ribeirinhas (AM). Especificamente para este projeto, o Núcleo BPI esteve por 11 dias em Pirenópolis, Goiás, quando todo o grupo fez pesquisas de campo nas festas do Divino. Conjuntamente a essas pesquisas, foram realizados laboratórios permanentes quando, então, as personagens de cada intérprete, já anteriormente estruturadas, foram vivenciadas durante as manifestações do Divino, junto às Folias, aos mascarados, às cavalhadas e inclusive no cotidiano das festas, como nas cozinhas dos festeiros.
A proposta da direção artística visou uma abordagem contemporânea de dança em que os intérpretes viveram o movimento em seus corpos com intensidade e organicidade. O trabalho foi criado dentro do método Bailarino-Pesquisador-Intérprete (BPI), o qual propõe um mergulho no mundo interior da pessoa, um contato real com as próprias sensações e não uma representação. É preciso despir-se das identidades de bailarino (e dessa forma elas são ressignificadas) para que a pessoa possa entrar em contato com as suas próprias alegorias na interação com diferentes realidades sociais.
O espaço de cada um dos sete Relicários, inicialmente concebido como uma instalação, foi sendo despido para que o mesmo pudesse proporcionar uma condensação no corpo, marcada através do tônus, da gestualidade e do movimento que materializa em cena um espaço imaginário, preenchendo o Relicário com acontecimentos em estados de resiliência.
Da pesquisa coletiva em Pirenópolis, adentraram no espetáculo, sem que houvesse a princípio uma intencionalidade, os Mascarados e as Folias do Divino. Os Mascarados estão presentes com a sua manifestação de alegria e entusiasmo de viver. Há relatos de que eles espantam os maus espíritos. Os chifres das máscaras, aqui, são tratados com o significado de fazer uma conexão com o Divino. Já as folias do Divino estão nos caminhos e descaminhos em que os Relicários, pela força com a qual arrebatam o Divino de cada um de nós, acolhem. Os Relicários contornam os caminhos. Eles impulsionam e são impulsionados para e pelos vórtices de força. Em cada corpo-relicário, há um Mascarado querendo romper todo tipo de estagnação.
A imersão foi um fator preponderante para que os corpos, coabitados em pesquisas de campo, pudessem maturar-se em cada intérprete com o despojamento do acúmulo até restar um ínfimo de conteúdos, ou seja, aquilo que sobra e incrusta na carne: habilidades de sobrevivência contendo o insistente ciclo de vida e morte; travessias e correntezas que deixam o corpo à deriva, caminhos apertados e oceanos revoltos que exalam pedidos de misericórdia. É preciso abrir esses corpos para fazer-se Relicário.
Esses sete corpos, sínteses de sensações e memórias, trazem em si: as marcas das lambadas nas pernas do corpo negro escravo; o peito flechado das mulheres que não viram os seus filhos crescerem; os pés exauridos pelo eterno exílio; as marcas da fome que atravessam as costelas; os dedos das mãos marcadas pelo porrete da quebra do coco; os buchos rasgados e costurados das parteiras Pankararu; e o corpo todo que se perde nas palafitas tomadas pelas águas. É exatamente nessas sínteses em que se ultrapassam limites, que o divino se espraia e habita o corpo, virando potência para dançar o que está sendo feito. Cada personagem é um aglomerado que foi depurado em forças instintivas e entidades divinas.
FICHA TÉCNICA
Direção: Graziela Rodrigues
Intérpretes: Elisa Costa, Flávio Campos, Larissa Turtelli, Mariana Floriano, Mariana Jorge, Nara Cálipo e Natália Alleoni
Assistente de direção: Paula Caruso
Participação especial e Apoio Técnico: Jaqueline Soraia, Flávia Pagliusi e Yasmin Berzin
Produção Cultural: Mariana Floriano e Núcleo BPI
Cenografia e figurino: Márcio Tadeu e Heloísa Cardoso
Assistência plástica: Gabih Fuziyama
Trilha sonora: Fábio Evangelista
Fotos e vídeos: João Maria
Iluminação: Francisco Barganian
Assessoria de imprensa: Confraria da Informação
Arte gráfica: Giacko Studio
Costureiras: Juliana Di Salvi e Creusa Ferreira Quintans
Máscaras: artesões de Pirenópolis
Luthier: Cris Bueno e Toshiro
Duração: 1h15min.
Faixa etária: todas as idades